Toda a gente compreende os termos "crença cultural" e "crença religiosa" mas muitas pessoas se interrogam acerca do conceito de "crença científica" ou de "crença pessoal".
Uma crença científica é a crença de que toda a realidade e toda a verdade poderá apenas ser definida e limitada pela objetividade, reprodutibilidade e consistência dos métodos de medida científicos tradicionais, baseados numa visão da realidade exclusivamente física e/ou material.
Thomas Campbell in "My Big TOE"
Obviamente muitos são aqueles que transformam, sem se aperceberem, esta crença já cultural, numa crença pessoal. A ignorância pessoal transforma-se assim em cegueira coletiva.
Declarar que o que não pode ser medido por um método de medida "físico/material" ou "tradicionalmente científico" não existe ou é insignificante não é uma declaração ou fato científico.
É antes uma declaração filosófica, dogmática ou mesmo mística!
As boas notícias é que a ciência dogmática está a adubar o terreno para a emergência galopante de uma nova ciência. Uma ciência que alimenta um cepticismo saudável, orientado para dentro de si mesma. Um cepticismo orientado para o exterior transformar-se-á sempre em dogmatismo.
Uma ciência que dirige a sua atenção para os domínios do objetivo e do subjetivo, que associa, complementando, os métodos de observação "de terceira pessoa" e de "primeira pessoa", que usa a humildade como principal ferramenta; considerando a presença da ignorância sobre aquilo que aprende e alimentando permanentemente uma atitude de abertura e cepticismo.
Há já uns meses largos, um amigo (a quem dedico grande afeição, apreço e admiração) disse-me que não acreditava numa vida depois desta que, para ele, a vida era só isto e depois, simplesmente, acabava. Este episódio, continua a bater-me à porta, de quando em vez, a pedir-me que aprenda o que puder com ele. Decidi fazer-lhe a vontade…
Se existe vida para além desta ou não parece-me estar muito para além do que conseguimos (eu e ele) compreender agora, com o nível de informação e de discernimento que agora possuímos (creio que o discernimento é mais importante, a informação nunca se altera, está toda aqui, à nossa mão, à espera que o discernimento - com as suas ferramentas - a consiga, finalmente, aproveitar).
Assim, como não existe maneira de saber objetivamente, resta-nos, ou suspender qualquer crença que tenhamos a este respeito e continuar a procurar a resposta ou escolher uma crença que nos sirva para alguma coisa.
Deixando a primeira opção para outros momentos de reflexão, continuo à procura de uma crença útil. Estamos num entroncamento com 2 direções: para um lado é o caminho "existe vida ou existência para além desta", para o outro entramos no caminho "isto é tudo o que terás, no fim não há mais nada".
Pergunto-me, para que me servirá entrar neste último?
Não consigo ver nenhuma vantagem… parece-me um caminho escuro e sem graça. Talvez viver irresponsavelmente sem receio de qualquer consequência divina decorrente das minhas ações? Desisto, já passaram uns bons 10 minutos nesta reflexão entediante.
E relativamente ao outro?
Sorrio. Aqui há um monte de vantagens, tantas quantas a minha imaginação me permitir. Inclusivamente posso construir uma série de cenários em que se torna vantajoso, para a/as próximas vidas, agir nesta de modo a que as coisas a que agora atribuo valor possam tornar-me ainda mais feliz e realizado. Ações relacionadas com as pessoas que amo, com a minha profissão e o valor que crio no mundo, a forma como me relaciono com desconhecidos, com a natureza, como me sinto e até pequenos disparates como o windsurf e a escalada, e até o sexo:). Fantásticos estes 5 minutos. :)))
Em determinados domínios da vida, não adianta perguntar se é verdade ou não, mais vale perguntar "se é útil". Nestes domínios, do que sabemos que não sabemos ou do que não sabemos que sabemos, mais vale perguntar "para que me serve?".
Sabes amigo, muitas vezes não vemos a crença como um campo de intervenção mas eu acho que é das áreas de arquitetura interior mais interessantes. É na terra do "ninguém sabe" que encontro as maiores fontes de inspiração; nesta terra não tenho limites para a criatividade, não me submeto a nenhuma autoridade e sou tão sábio ou burro como qualquer outra criatura viva. É aqui que invento as minhas fontes de inspiração, que crio os estímulos que me motivam e que atribuo sentido à minha existência.
Claro que à vida depois da vida. Como sei? Não sei mas dá-me jeito. :)